Por: Dra. Viviane maia.
Quando se fala em compulsão alimentar, muitas pessoas ainda acreditam que o problema está ligado apenas à falta de disciplina ou força de vontade. No entanto, essa é uma visão equivocada e que pode gerar ainda mais sofrimento em quem enfrenta essa dificuldade. A compulsão alimentar é um transtorno psicológico sério, que envolve fatores emocionais, biológicos e sociais, muito além do simples ato de comer em excesso.
Durante um episódio compulsivo, a pessoa sente uma necessidade incontrolável de comer, mesmo sem fome, e consome grandes quantidades de alimento em pouco tempo. Logo depois, surgem sentimentos de culpa, vergonha e arrependimento, alimentando um ciclo doloroso e difícil de romper. Esse comportamento não é sobre prazer ou gula, mas uma tentativa de aliviar emoções intensas como ansiedade, tristeza ou vazio emocional.
As causas da compulsão alimentar são múltiplas. No campo emocional e psicológico, destaca-se o uso da comida como uma forma de conforto diante de dores internas, traumas, baixa autoestima e dificuldade em lidar com sentimentos negativos. Já no aspecto biológico, alterações em neurotransmissores como a serotonina e a dopamina — responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar — podem favorecer a perda de controle alimentar. Fatores como desequilíbrios hormonais, predisposição genética, privação de sono e fadiga também influenciam o comportamento alimentar.
Além disso, a sociedade moderna contribui para o agravamento do quadro. Vivemos cercados por estímulos para comer e, ao mesmo tempo, pressionados por padrões de beleza inalcançáveis. Dietas restritivas, culpa e comparações constantes nas redes sociais podem intensificar o sofrimento e reforçar o ciclo da compulsão. Desde a infância, muitas pessoas aprendem a associar comida a afeto — “come pra ficar feliz”, “toma um doce pra parar de chorar” — o que, com o tempo, se transforma em um padrão de comportamento emocional.
É fundamental entender que a compulsão alimentar não é fraqueza, preguiça nem falta de força de vontade, mas sim um pedido de ajuda do corpo e da mente. O tratamento deve ser realizado com acompanhamento psicológico, e, em alguns casos, também nutricional e psiquiátrico. A psicoterapia ajuda a pessoa a identificar gatilhos emocionais, desenvolver autocompaixão e reconstruir uma relação mais saudável com a comida e com o próprio corpo.
Buscar ajuda é um ato de coragem. Enfrentar a compulsão alimentar requer autoconhecimento, paciência e acolhimento, e cada pequeno passo em direção ao equilíbrio emocional é uma vitória.
✨ Lembre-se: você não é o seu transtorno. A recuperação começa quando a dor encontra espaço para ser escutada sem julgamento.
