
Poucos objetos resistem ao tempo com a mesma dignidade de um país em construção. O Brasil, nas décadas de 60, 70 e 80, ergueu prédios, empresas, sonhos — e em muitos pulsos que assinavam cheques, batiam carimbos e fechavam negócios, estava lá: o Orient 3 Estrelas.
Mais do que um simples relógio, ele foi companheiro silencioso de uma geração que acreditava na ascensão social pelo trabalho. Pais e avós orgulhosos exibiam no pulso aquele mostrador elegante, robusto, resistente, símbolo de que cada minuto era precioso. O 3 Estrelas não marcava apenas as horas: marcava a história.
Assim como o Fusca motorizou o Brasil, o Orient 3 Estrelas democratizou o tempo. Era confiável, acessível, mas carregava uma aura de sofisticação. Representava a mistura perfeita entre a praticidade japonesa e o desejo brasileiro de progresso. Não havia escritório modesto ou comércio de bairro que não tivesse um empreendedor conferindo suas horas no 3 Estrelas antes de abrir as portas.
Hoje, falar desse relógio é falar de memória afetiva. É lembrar do avô que olhava discretamente as horas no almoço de domingo, ou do pai que, ajustando o ponteiro, nos ensinava que pontualidade também é respeito. O 3 Estrelas é herança — não apenas no objeto em si, muitas vezes guardado como relíquia de família, mas na simbologia de disciplina, persistência e fé no futuro que ele carrega.
Num mundo onde o tempo parece escorrer pelos dedos digitais, resgatar a lembrança do Orient 3 Estrelas é resgatar o valor de uma era. Ele é testemunha silenciosa da construção do Brasil moderno, das mãos calejadas que se tornaram empresários, dos sonhos pequenos que viraram grandes.
O Orient 3 Estrelas não é apenas um relógio. É um pedaço da alma brasileira.
Cassiano Panizza.
